sexta-feira, 2 de julho de 2010

Exposição Temporária




Martha Telles

A terceira de cinco irmãos, Martha Telles nasceu na Rua da Carreira a 19 de Agosto de 1930 no Funchal. Filha do madeirense, advogado e filantropo Alexandre da Cunha Telles e da cantora lírica dinamarquesa Wera Cohen da Cunha Telles, tirou o curso de Pintura na Escola Superior do Porto nos finais dos anos cinquenta.
Depois de correr mundo, desde a Europa aos Estados Unidos, realizou diversas exposições tendo sido a primeira em Copenhague. Foi bolseira da Fundação Gulbenkian em Paris e frequentou a Sorbonne. Estudou com a pintora Vieira da Silva e conviveu com Jorge Martins e José Escada. Percorreu a Dinamarca, a Itália, o México; exerceu funções docentes em Lisboa e Moçambique. Viveu em Bruxelas, onde reside actualmente a sua única filha. Naturalizou-se canadiana em 1974, vindo a falecer no dia 21 de Fevereiro do ano 2001.

A presente exposição resulta da cedência temporária de 31 obras da artista à Região Autónoma da Madeira e encontra-se patente ao público no mesmo horário do Museu, com entrada gratuita.

A Casa-Museu Frederico de Freitas




Recebido o legado e ciente da importância de manter o acervo exposto no local onde havia sido reunido, o executivo regional adquiriu a Casa da Calçada. Foram então encetadas importantes e profundas obras de recuperação que obedeceram a um projecto da responsabilidade dos arquitectos Maria João Almada Cardoso e Gastão Salgado da Cunha, a executar em duas fases distintas.
Um grande esforço foi feito na adaptação da antiga habitação às novas exigências museológicas de uma Casa-Museu: definiram-se áreas de funções diferenciadas, resolveram-se percursos; seleccionaram-se peças em função da sua qualidade, beleza ou interesse específico, recolheram-se outras a fim de valorizar e facilitar as leituras, garantindo também uma melhor segurança. Beneficiaram-se as condições de exposição com a abertura de novos vãos para entrada de luz e para instalação de vitrinas de apres A Casa-Museu abriu as suas portas pela primeira vez ao público a 29 de Junho de 1988.
Em Junho de 1996 começou a execução da segunda fase da Casa-Museu Frederico de Freitas que, na sua totalidade, permitiu a quase duplicação da área de pavimento inicial e a renovação e reabilitação de 700 m2 de jardins. Foi construída de raiz a Casa dos Azulejos, destinada à Exposição Permanente de Azulejaria e que integra as Reservas e Oficina de Azulejos, um Auditório com capacidade de 50 lugares e uma Cafetaria. Toda esta nova área é servida por um elevador, o que permite um fácil acesso aos deficientes motores.
Foi ainda restaurada e ampliada a Casa da Entrada, onde funcionam a Portaria e os Serviços de Educação e de Animação da Casa-Museu. Foram também concluídas obras no edifício antigo, a Casa da Calçada, que levaram à abertura de três novas áreas de exposição permanente e à recuperação de outras zonas de Serviços do Museu. Esta última fase foi inaugurada a 30 de Setembro de 1999.
Desde 2002 a Casa-Museu, à semelhança de todos os Museus tutelados pela DRAC, integra a Rede Portuguesa de Museus.

O Coleccionador

No início dos anos 40 a Casa da Calçada foi arrendada pelo Dr. Frederico de Freitas, prestigiado advogado e notário madeirense, com relevante desempenho no âmbito das Artes e Cultura locais. O Dr. Frederico Augusto de Freitas nasceu a 15 de Dezembro de 1894 e faleceu em 27 de Novembro de 1978. Fez parte dos corpos directivos da Sociedade de Concertos da Madeira, desde a sua fundação em 1943. Dos anos 30 à década de 70, integrou as comissões organizadoras e executivas de prestigiadas exposições que se realizaram no Funchal, relacionadas com os mais variados temas de Arte e Cultura. Merece especial realce o seu desempenho na organização da 1ª Exposição de Gravuras da Madeira realizada em 1934, no Casino Vitória e que deu origem ao livro Estampas Antigas da Madeira, editado em 1935, pelo Clube Rotário do Funchal e de uma outra ocorrida em 1949, no Museu Quinta das Cruzes, de que resultou uma outra publicação intitulada Estampas Antigas de Paisagens e Costumes da Madeira, da autoria do Dr. Leite Monteiro, editada em 1951. Desses memoráveis eventos são ainda de destacar a Exposição de Esculturas Religiosas, apresentada no convento de Santa Clara, em Junho de 1954; a Exposição de Porcelanas Companhia das Índias que decorreu entre Setembro e Outubro de 1960, no Museu da Quinta das Cruzes e, organizada pela Academia de Música e de Belas Artes da Madeira na sua sede à Rua da Carreira 65, a de Cadeiras inglesas, patente ao público em Junho de 1971. Membro da Comissão Directiva do Museu Quinta das Cruzes, em 1973 e fundador do Clube Rotário do Funchal, o Dr. Frederico de Freitas teve reconhecida acção benemérita no Convento de Santa Clara e Escola Salesiana de Artes e Ofícios, sendo-lhe concedida pelo Presidente da República a Comenda da Ordem de Benemerência, a 5 de Julho de 1971. Amante e apreciador de peças de arte começa a constituir a sua colecção a partir dos anos 30, mas é após a mudança para a ampla moradia da Calçada que mais livremente manifestou a sua vocação de coleccionador que o levou a reunir, ao longo de mais de três décadas, importantes núcleos de Escultura, Pintura, Gravura, Mobiliário e Cerâmica. A partir da Casa, intensamente vivida por um núcleo familiar alargado de que restam interessantes e diversificadas lembranças, o Dr. Frederico de Freitas deixou uma estreita teia de ligações, com individualidades locais e também com visitantes nacionais ilustres, alguns especialistas como o Eng.º Santos Simões, Bernardo Ferrão, só para citar dois nomes de referência nos domínios da azulejaria, mobiliário e arte indo-portuguesa. São estas memórias que nos mostram um homem interessado, com responsabilidades e papel activo em vários domínios da vida pública regional, mas também um estudioso atento que reúne publicações e documentação sobre as peças que colecciona e que procura, a partir dos contactos com especialistas de diferentes áreas, manter-se informado no que ao estudo e produção artística respeita. Outra faceta que o caracteriza é o gosto em mostrar, apreciar e partilhar com terceiros cada objecto adquirido, falar e dar a conhecer cada particularidade descoberta. É este envolvimento com as colecções, espírito de generosidade e um profundo afecto pela sua terra que determina, em 1978, a decisão de legar à Região Autónoma da Madeira o seu património mobiliário que constitui recheio da sua residência.

A Casa da Calçada




Praticamente no centro do Funchal, entre os históricos templos de S. Pedro e Convento de Santa Clara, a meia subida da Calçada de Santa Clara, destaca-se pelas suas proporções, imponência e invulgar tom avermelhado, a Casa-Museu Frederico de Freitas. Também conhecida por Casa da Calçada, esta designação identifica a antiga residência dos Condes da Calçada, cuja origem remonta ainda ao século XVII.
O edifício de certo aparato arquitectónico, referido como palácio na imprensa do século XIX, foi ao longo dos tempos sucessivamente ampliado e remodelado, apresentando-se definitivamente marcado por intervenções da segunda metade de oitocentos. Estas últimas reformas são desde logo denunciadas pelo arranjo algo exótico da fachada, coroada por cimalha vazada e que inclui três cúpulas, um par de torreões ligeiramente avançados e uma entrada resguardada por alpendre sublinhado por lambrequins de elaborada decoração recortada. Estes elementos, aliados às cores fortemente contrastantes (vermelho, verde e branco), conferem ao conjunto edificado um cunho cenográfico, bem ao gosto romântico e demarcam-no, distinguindo-o da tradicional arquitectura funchalense.
Se por um lado esta original intervenção atesta um período de prosperidade da Casa e dos seus ocupantes, não deixa de revelar uma faceta algo arrojada do seu proprietário, Diogo de Ornelas de França Carvalhal Frazão e Figueiroa agraciado com o título de 1º Visconde da Calçada pelo rei D. Luís, em 1871. A 4 de Outubro de 1882 recebeu a nomeação de governador civil substituto do Funchal e cerca de uma década mais tarde foi elevado à grandeza de Conde. Por testamento datado de 1903, Diogo de Ornelas Frazão deixou parte dos seus bens que naturalmente incluíam a Casa da Calçada ao seu filho Eduardo de Ornelas Frazão, 2º Conde da Calçada e cujos descendentes se mantêm na posse do imóvel até 1979, altura em que foi adquirido pelo Governo Regional

Um Museu-Três Percursos



Na Casa-Museu são proporcionados três percursos diferenciados. O primeiro reporta-se à Casa da Calçada, onde o visitante acede a salas, cujas denominações evocam vivências de outrora (Salões, Quarto de Dormir, Sala de Jogo, Quarto de Jantar, Sala do Chá, Cozinha) e onde os interiores não exibem apenas objectos, mas procuram mostrar a ambiência da antiga moradia do Coleccionador. É esta particular vocação que caracteriza as Casas-Museus, onde para além das colecções, se devem retratar vidas e ambientes determinados.
Respeitando esta lógica, as peças expõem-se formando conjuntos, para que se possam estabelecer relações, fazer comparações, mas também são organizadas por critérios de harmonia e de adequada integração às diferentes funções dos espaços em que se encontram. O mobiliário de origem nacional e estrangeira, do séc. XVI ao XIX, expõe-
se naturalmente, servindo de suporte a quase todas as outras colecções. É o caso da escultura religiosa, que inclui exemplares de excelente qualidade, de origem europeia e luso-oriental, datados da centúria de quinhentos aos nossos dias. Das paredes pendem obras de pintores nacionais e europeus, na sua maioria atribuídas aos séculos XVIII e XIX. Inúmeras peças de cerâmica utilitária e decorativa, arrumam-se sobre os móveis ou em vitrinas, destacando-se um núcleo à parte, que ocupa espaço próprio, a singular colecção de canecas, muito ampla e variada, abrangendo outro tipo de recipientes tão díspares como jarros, garrafas, potes, ânforas e bilhas.
Os temas e os objectos relacionados com a Madeira foram desde início um dos grandes interesses do Dr. Frederico de Freitas que conseguiu reunir um importantíssimo património iconográfico e bibliográfico, de que as colecções de estampas e de desenhos são o exemplo mais evidente. Fazem igualmente parte do acervo de origem regional um significativo número de peças de mobiliário e de escultura. Refira-se designadamente as figuras de presépio madeirense, datadas dos séculos XIX e XX, que incluem exemplares mais eruditos e outros bem populares, ilustrando algumas tradições locais, testemunham uma devoção que nos é muito peculiar.



Faz todo o sentido integrar neste circuito o Jardim sobre a Calçada, um dos raros jardins sobreelevados ainda existentes no Funchal e que mantém as características tradicionais dos jardins urbanos oitocentistas: a calçada de calhau rolado, o traçado primitivo dos canteiros, o corredor de vinha e a Casinha de Prazer.



A segunda etapa da visita respeita a Casa dos Azulejos, cuja entrada dá acesso ao pequeno e minimalista espaço ajardinado donde se vislumbra uma perspectiva mais recôndita da cidade. A Colecção de Azulejaria, importantíssima pela sua quantidade e diversidade, constituiu sempre um núcleo à parte, sendo por isso exposta em espaço propositadamente edificado e concebido para o efeito. A nova construção responde a exigências específicas de acessos a deficientes, espaços de Reservas e Oficina, Cafetaria e Auditório, bem como resulta de um programa museográfico, da responsabilidade do Dr. Rafael Salinas Calado – 1º Director do Museu Nacional do Azulejo e na altura Conservador Assessor do Museu Nacional de Arte Antiga – desde a primeira hora ciente do potencial pedagógico e didáctico da exposição.
A Colecção de Azulejos é essencialmente constituída por peças, inteiras e fragmentos, que se exibem em conjunto, formando painéis de maiores ou menores dimensões, ou isoladas, quando mais raras. Distribui-se ao longo dos quatro pisos da exposição segundo uma lógica cronológica e de origem, evocando a evolução da cerâmica de revestimento dos primórdios à actualidade.
Abre a exposição um espaço dedicado ao fabrico do azulejo, onde se procura introduzir o visitante nas várias técnicas utilizadas. Mostram-se os diferentes barros, apetrechos e esmaltes de cores diversas, exemplificam-se alguns tipos e etapas da decoração, exibem-se exemplares de diferentes tipologias. Esta introdução ao azulejo beneficia de um poderoso auxiliar, um filme que mostra e confronta os métodos de fabrico artesanal e mecânico. Ao longo da Exposição Permanente de Azulejaria, é possível perceber a evolução do azulejo do século XIII aos nossos dias, a partir do Oriente, com especial enfoque para a produção islâmica, passando pela Europa, com peças medievais, de majólica, um núcleo significativo de azulejaria holandesa e uma importante mostra do fabrico nacional, representado dos primórdios até à actualidade. Realizados em 1998 especificamente para o Museu, três belos painéis da artista madeirense Lourdes Castro encerram com chave de ouro o conjunto da produção nacional.
A visita à Casa-Museu Frederico de Freitas deverá terminar com uma passagem pelo espaço das Exposições Temporárias.